quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Patologicamente otimista.

Já que todas as linguagens são linguagens, que vem de gramáticas,
que buscam falar,
e são necessariamente jamais idênticas,
como isso poderia ser qualquer espécie de lugar tranqüilo?

mesmo que consciente ou inconscientemente, só queiramos ser aceitos pelo que somos. E o que somos vai mudando a cada dia.

e aceitem-nos ainda assim mesmo com essas mudanças...

eu sou diferente de você, me aceite,
eu falo outro idioma,
uso outros fonemas,
aliterações,
metonímias,
e metáforas,
(principalmente as metáforas),

que jamais terão as mesmas estrelas e luzes, distantes por trás, e a mesma noção do deus que devora seus filhos, e parecida farsa de nós canibalizando a nós mesmos e uns aos outros, para que nos traduzamos, e assim dominamos, e ao mundo, e conseqüentemente aos outros, e que se não nos reconhecem, se olham nossos olhos amarelados e dizem ser acinzentados, e se a todo custo é necessário que acreditem que eles sejam amarelados na verdade, mas não que acreditem tão somente, mas que de fato sejam também para o outro, amarelados, e que se eventualmente dissermos que

não importa o que o outro pensasse sobre nossos olhos
ou nossas idéias
ou nossas verdades
ou nossos gestos
ou nossos gritos,

que no fim não importa,

é porque pensamos de alguma forma que é uma espécie de verdade nossa que é, fanaticamente e fantasticamente,

nada mais que,

não muito menos que,

a escrita circunscrevendo e inscrita no mundo.

medonho.

aterrorizador.
labiríntico,
só que com todas as portas lacradas.

pior ainda:

inexistentes.

THAIS GOUVEIA.

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